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terça-feira, 17 de julho de 2007

Corpos

Consegui finalmente visitar a exposição que se encontra no Palácio dos Condes do Restelo (antiga loja de decoração Interna Empório Casa), ao Príncipe Real, “O corpo humano como nunca o viu”.

Esta exposição utiliza corpos reais que passam por um processo de conservação que os faz chegar até nós com um aspecto de modelos construídos para o efeito.

A inovação é precisamente a genuinidade da matéria exposta, e tem a grande potencialidade de utilizar espécimes reais para ilustrar as explicações que nos são fornecidas. Podemos ver como realmente somos por dentro e conhecer de forma inequívoca, as nossas entranhas (por pior que isso possa ser ou parecer).

Para além da lição que nos é dada e dos conselhos subjacentes que vamos encontrando nas salas que correspondem a cada parte do corpo, há uma questão implícita no conceito desta exposição, que se trata da relação que o Homem tem com o seu corpo.

E isto leva-me a outra reflexão.

Há pessoas para quem a esperança da salvação da alma faz com que pouco se importem sobre qual será o destino dado ao seu corpo. No entanto, há outros que consideram que o corpo deve continuar a ser respeitado. E uma das razões da polémica desta exposição é precisamente o facto de alguns julgarem que esta seja uma forma pouco digna de utilização dos corpos em questão (pelo menos não tão digna como o simples-enterro-e-pronto-acabou-se, dizem).

Eu sou da opinião precisamente contrária. Visto que não tenho grandes esperanças na imortalidade da alma (e sei que Platão, depois de tantos argumentos utilizados no Fédon morreria – indubitavelmente, LOL - de novo se lesse isto que estou a escrever) acredito que aquilo que sobra depois da morte – o corpo – deve continuar a ser útil, o que não deixa de ser uma forma de respeito pelo corpo e uma forma de perpetuar o ser que nele viveu.

Assusta-me imaginar-me a ser comida por bichinhos horrendos enquanto apodreço debaixo da terra, para além de aumentar ainda mais os meus sintomas de claustrofobia… Já que não serve mesmo para mais nada, ao menos que possa ser utilizado em proveito da HUMANIDADE!

O que é que pode ser mais digno para um corpo sem vida do que poder contribuir para o desenvolvimento da ciência, ou seja, poder ajudar os que ainda estão vivos?...
Bem sei que não é um tema consensual. Pelo sim, pelo não, já comecei a pesquisar a legislação sobre doação de corpos/órgãos.


PS – Em último caso, prefiro ser cremada!!!
PS2 - Perdoem-me os entendidos, mas esta é apenas uma opinião da leiga que sou nestas matérias.