Já te contei?...

Porque há coisas que às vezes ficam por contar...

quinta-feira, 6 de abril de 2006

Aquela árvore caiu.

Aquela árvore onde dezenas (ou centenas) de vezes subimos e onde passámos momentos tão memoráveis da nossa infância – a qual, por menos que pareça, vai parecendo estar, e efectivamente estando, cada vez mais longe no tempo – não resistiu às mais recentes ventanias, e sucumbiu. Normal… as árvores têm um tempo útil e muitas delas caem com o vento. Mas neste caso, pelo menos para mim, não é tão simples quanto isso.

É desconcertante como certas coisas podem mexer connosco, como a queda de uma árvore. Uma árvore que durante 25 anos vi ficar despida ou frondosamente florida marcando as estações que passavam. A árvore que fez sombra às nossas brincadeiras, às nossas conversas, às nossas descobertas mais simples ou que guardou os nossos segredos mais importantes… que nos viu crescer e que crescia (e morria) aos poucos. A verdade é que nos habituamos às coisas no seu lugar e pensamos que estarão lá para sempre.

Aquela a que chamávamos a árvore dos patafúrdios (quem é que na geração dos 70’s e 80’s não se lembra da série?...) porque cada um de nós subia para um dos braços e lá ficávamos a conversar e a rir, por vezes até escurecer, altura em que, pelo meio das folhas verdes víamos os nossos pais a sair de casa, começando a chamada para o jantar, e as gargalhadas silenciosas e os olhares cúmplices eram a prova da nossa amizade e faziam-nos acreditar que seria sempre assim.

Ter um lugar n’A árvore era um estatuto entre nós. Os fedelhos contentavam-se a ficar na ramada de baixo, à vista de todos os que passavam. Os mais velhos estavam lá em cima, como prova de bravura e altivez. Mas era assim e ninguém contestava, nem sequer importava!!! Até porque acabada a brincadeira, todos descíamos e íamos fazer qualquer outra coisa. Havia sempre muito que fazer. E éramos tantos…

A queda de uma árvore pode trazer-nos à memória muitos momentos da nossa vida, podem fazer-nos lembrar de pessoas que em determinado momento da nossa vida faziam parte de nós… e de alguma forma continuam a fazer, cada um à sua maneira.

É por isso que não consigo passar indiferente quando vejo a base cortada da árvore que caiu. Com ela foi-se um pouco de todos nós.

1 Comments:

At sexta-feira, agosto 01, 2008, Anonymous Anónimo said...

Eu também já passei por uma situação parecida.É como que nos tiram algo de nós, é como k olhamos e agora já só temos as lembranças. Confrontamo-nos com a realidade de que tudo vivido já faz parte do passado e não mais poderá ser revivido. Como é que uma simples árvore, um simples local, uma simples pessoa, um simples gesto, nos pode, no presente, parecer tão indiferente e no futuro tão marcante?

 

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