Como (tentar) enviar um fax no Algarve (não muito) profundo…
12.15: Cabanas de Tavira. Entrei num misto de Junta de Freguesia e Estação dos Correios nesta terra (supostamente) ensolarada do Algarve. À entrada um corredor. Janela da esquerda, junta de freguesia, janela da direita, balcão de atendimento dos correios. Dirijo-me à funcionária da JF e peço uma folha de papel branca para poder passar a limpo a bela da história que serve de pano de fundo a uma apresentação de ballet (estou a ficar importante)…
So far, so good…
12.20: A Sra. D. Joaquina entra esbaforida no corredor, dirige-se para a janela que serve de balcão para a estação de correios e pede para telefonar. Resposta: pode utilizar esse telefone de moedas aí fora, já não temos telefone público cá dentro. (Maaaaaau - pensei eu. Mas continuei a escrever. Afinal, só faltavam dez minutos para a estação de correios fechar…). Depois de a velha senhora introduzir as moedas em todas (salvo seja) as ranhuras possíveis e imaginárias, a simpática funcionária lá ajudou e até marcou o número de Paris de França que a sra. lhe ditou e que trazia na ponta da língua – Sabe, é o meu filho que está em França, e eu falo muitas vezes para lá…
Ok…
12.25: Alô, Pierre? Oú est ton maman? (num francês quase perfeito, para uma Sra. de mais de 60 anos… ainda que aos berros). Diz-lhe qui há aqui un apartement comme elle veux e c’es pas caro ! Mas diz-lhe qui me téléphone quand arrive à la maison. Entendu ? Bisous pour toi ! – Ah pois é ! Ora toma lá, meio franciú, meio tuga, lá ela passou a mensagem! – Mas eu continuava ali. Até que, finalmente, já mesmo em cima das 12.30, chega a minha vez…
12.29: - Boa tarde, gostaria de enviar este fax, por favor. – Oh, minha menina, aqui nesta estação de correios não temos serviço de Fax, tem que ir a Tavira, ou a Cacela… (Grrr…) Respirei fundo, e ainda olhei para a janela da Junta de Freguesia… O olhar pouco prestável da funcionária, fez-me perceber que nem valia a pena tentar.
13.00: Vila Nova de Cacela. Voltas e mais voltas para encontrar a estação de correios, que, por acaso, também tinha fechado à 12.30. Com a maior cara de pau, entrei em 4 ou 5 estabelecimentos comerciais perguntando se podia mandar o fax. Todas as desculpas e mais algumas, seguidas da indicação de “um sítio onde talvez consiga”… Lá fui eu parar à Junta de Freguesia, onde as simpáticas funcionárias me disseram que “Para além de o nosso fax só dar para receber (e eu sou o Pai Natal) estamos com uma falha de electricidade e o fax não funciona!”
13.30: Monte Gordo. Estação de correios fechada (esta fechava às 13.00). Agências de viagem sem fax, pelos motivos mais criativos que já ouvi até hoje (quando a falta de vontade é muita)… Note-se que a esta altura já tinha alguém comigo a resmungar, e com umas trombas até ao chão – sobretudo porque “Eu disse-te! Íamos a qualquer cyber café e tu mandavas isso por mail!”. Mas eu, persistente (enfim, naquela altura já era teimosia) continuava – de calções, top e chinelos, a entrar em cada estabelecimento comercial que me parecia passível de ter um fax…
13.45. Quiosque da PT, perto do qual já tínhamos passado há 15 minutos, com acesso à Internet. Resignei-me perante o sorriso de satisfação de quem me acompanhava desesperado. A “deitar fogo pelas ventas” lá passei o texto a computador e enviei por e-mail para o destino desejado.
Mesmo a tempo de às 14.00 estar na Praia Verde…
1 Comments:
Olá. Obrigado por me fazeres rir! Também tenho momentos de teimosia desses insistindo em acreditar em milagres... Coitada da tua companhia... Para receber uma encomenda dos meus pais durante a minha estadia na Polónia passei por algo semelhante. Com neve e sem falar bem a lingua foi ainda mais dificil correr as estações todas em busca da encomenda perdida. You must trust the Force!
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