Já te contei?...

Porque há coisas que às vezes ficam por contar...

terça-feira, 20 de junho de 2006

Como (tentar) enviar um fax no Algarve (não muito) profundo…

12.15: Cabanas de Tavira. Entrei num misto de Junta de Freguesia e Estação dos Correios nesta terra (supostamente) ensolarada do Algarve. À entrada um corredor. Janela da esquerda, junta de freguesia, janela da direita, balcão de atendimento dos correios. Dirijo-me à funcionária da JF e peço uma folha de papel branca para poder passar a limpo a bela da história que serve de pano de fundo a uma apresentação de ballet (estou a ficar importante)…

So far, so good…

12.20: A Sra. D. Joaquina entra esbaforida no corredor, dirige-se para a janela que serve de balcão para a estação de correios e pede para telefonar. Resposta: pode utilizar esse telefone de moedas aí fora, já não temos telefone público cá dentro. (Maaaaaau - pensei eu. Mas continuei a escrever. Afinal, só faltavam dez minutos para a estação de correios fechar…). Depois de a velha senhora introduzir as moedas em todas (salvo seja) as ranhuras possíveis e imaginárias, a simpática funcionária lá ajudou e até marcou o número de Paris de França que a sra. lhe ditou e que trazia na ponta da língua – Sabe, é o meu filho que está em França, e eu falo muitas vezes para lá…

Ok…

12.25: Alô, Pierre? Oú est ton maman? (num francês quase perfeito, para uma Sra. de mais de 60 anos… ainda que aos berros). Diz-lhe qui há aqui un apartement comme elle veux e c’es pas caro ! Mas diz-lhe qui me téléphone quand arrive à la maison. Entendu ? Bisous pour toi ! – Ah pois é ! Ora toma lá, meio franciú, meio tuga, lá ela passou a mensagem! – Mas eu continuava ali. Até que, finalmente, já mesmo em cima das 12.30, chega a minha vez…

12.29: - Boa tarde, gostaria de enviar este fax, por favor. – Oh, minha menina, aqui nesta estação de correios não temos serviço de Fax, tem que ir a Tavira, ou a Cacela… (Grrr…) Respirei fundo, e ainda olhei para a janela da Junta de Freguesia… O olhar pouco prestável da funcionária, fez-me perceber que nem valia a pena tentar.

13.00: Vila Nova de Cacela. Voltas e mais voltas para encontrar a estação de correios, que, por acaso, também tinha fechado à 12.30. Com a maior cara de pau, entrei em 4 ou 5 estabelecimentos comerciais perguntando se podia mandar o fax. Todas as desculpas e mais algumas, seguidas da indicação de “um sítio onde talvez consiga”… Lá fui eu parar à Junta de Freguesia, onde as simpáticas funcionárias me disseram que “Para além de o nosso fax só dar para receber (e eu sou o Pai Natal) estamos com uma falha de electricidade e o fax não funciona!”

13.30: Monte Gordo. Estação de correios fechada (esta fechava às 13.00). Agências de viagem sem fax, pelos motivos mais criativos que já ouvi até hoje (quando a falta de vontade é muita)… Note-se que a esta altura já tinha alguém comigo a resmungar, e com umas trombas até ao chão – sobretudo porque “Eu disse-te! Íamos a qualquer cyber café e tu mandavas isso por mail!”. Mas eu, persistente (enfim, naquela altura já era teimosia) continuava – de calções, top e chinelos, a entrar em cada estabelecimento comercial que me parecia passível de ter um fax…

13.45. Quiosque da PT, perto do qual já tínhamos passado há 15 minutos, com acesso à Internet. Resignei-me perante o sorriso de satisfação de quem me acompanhava desesperado. A “deitar fogo pelas ventas” lá passei o texto a computador e enviei por e-mail para o destino desejado.

Mesmo a tempo de às 14.00 estar na Praia Verde…

1 Comments:

At quarta-feira, junho 21, 2006, Blogger Filipe Roque said...

Olá. Obrigado por me fazeres rir! Também tenho momentos de teimosia desses insistindo em acreditar em milagres... Coitada da tua companhia... Para receber uma encomenda dos meus pais durante a minha estadia na Polónia passei por algo semelhante. Com neve e sem falar bem a lingua foi ainda mais dificil correr as estações todas em busca da encomenda perdida. You must trust the Force!

 

Enviar um comentário

<< Home