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Porque há coisas que às vezes ficam por contar...

quinta-feira, 10 de agosto de 2006

Serviço de Urgência

Apesar de me considerar uma pessoa estóica (às vezes até demasiado), lido muito mal com o sofrimento dos outros, sobretudo dos que me são próximos. Talvez esse seja um dos motivos que faz com que eu evite ao máximo ir ao hospital. Mas há momentos em que não há volta a dar, e ontem, lá fui eu, já passava da meia noite, a caminho das urgências, com dores na malfadada unha do pé.

Desde logo, o sistema funciona mal, já que não há uma triagem dos doentes à entrada das urgências e uma senhora que está aos gritos a morrer de cólicas, tem que esperar que o senhor que espetou uma farpa no dedo seja atendido primeiro, porque chegou primeiro... Isto faz com que, não só a senhora prolongue o seu sofrimento, como também impressiona (e incomoda) o resto das pessoas que estão na sala de espera (entenda-se que, se estão na sala de espera das urgências já não estão, por si só, muito bem, como ainda têm que ouvir os gritos desesperantes de alguém em sofrimento).

Fez-me lembrar uma cena do filme "A Ilha" (com o Leonardo di Caprio) que passou este fim-de-semana na televisão(e que eu, pela terceira vez, ainda não consegui ver do princípio ao fim), em que um membro da comunidade da ilha é mordido por um tubarão e, perante a proibição da vinda de um médico à ilha, fica para ali, a arder em febre, com a perna meio desfeita, dando gritos lancinantes e praguejando contra tudo e todos. A decisão do grupo foi levá-lo para uma parte da ilha em que ninguém o pudesse ouvir e assim, mesmo sabendo que ele estava a sofrer, a vida continuou "perfeita" naquele paraíso. Felizes os ignorantes...

A situação complicou-se, já com a pobre senhora a ser atendida no gabinete, quando chega um rapaz mais ou menos da minha idade (e que por acaso andou comigo na escola primária) e teve ali um ataque-de-qualquer-coisa (entre um AVC, um ataque epiléptico, não faço ideia) que nos deixou a todos em pânico e em choque. Foi horrível. Será certamente uma imagem que vou reter na minha memória e que me fará sempre pensar no efémero da nossa existência, que não há idade para o que tem que acontecer. Não sei como ficou. Levaram-no para dentro. Espero que esteja bem.

Senti-me ridícula ao estar ali por causa de dores numa unha. A propósito, estou a antibiótico. E só não me tiraram a unha porque fiz a cara n.º 38 de noiva desesperada e a médica teve pena de mim. Marcámos encontro para sábado às 24h, hora em que ela começa o próximo serviço de urgência, para ver a evolução da infecção. Lá irei, mais uma vez, dar um passeio a um local que não deve ser muito diferente do inferno...

1 Comments:

At quarta-feira, agosto 16, 2006, Anonymous Anónimo said...

Nádia...o Hospital do Barreiro, não é um hospital qualquer...
Está para surgir o barreirense que não tenha um mítico e fantasmagórico episódio para contar sobre...esse sítio...

Saudações de Bucareste,

Nuno (aquele que encontravas sempre nas entrevistas e fez o IV CDJ contigo)

 

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